Em entrevista ao DIÁRIO, o promotor Fábio Monteiro, que combate organizações criminosas no AM, diz que o desvio de verbas públicas hoje é o crime mais rentável do Estado.
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Manaus - Há quase um ano investigando o crime organizado no interior do Estado, principalmente em casos de denúncias em torno da administração municipal, o chefe do Centro de Apoio e Combate ao Crime Organizado (CAO-Crimo), promotor de Justiça Carlos Fábio Braga Monteiro, disse, esta semana, em entrevista ao DIÁRIO, que a lavagem de dinheiro por desvio de verba pública, no Estado, é maior que o montante movimentado pelo tráfico de drogas.
Hoje, o CAO-Crimo tem mais ações voltadas para a administração pública ou para o tráfico?
Do ponto de vista quantitativo temos mais investigações de corrupção pública do que do tráfico. Não que se esteja traficando pouco, ao contrário. É muito. Mas concentramos poucos procedimentos na investigação do tráfico no Amazonas porque, geralmente, compram de um mesmo fornecedor. Enquanto que, para cada município, eu preciso instaurar um procedimento.
Por que o CAO-Crimo passou a investigar a administração pública?
Porque uma organização criminosa tem seus tentáculos em todos os setores, inclusive na administração pública. Quando um traficante movimenta R$ 1 milhão, ele é considerado um grande traficante no Brasil, e quando um administrador fraudava um contrato licitatório ele não tinha uma investigação aprofundada. O traficante causa um mal, sem sombra de dúvida. Mas um administrador corrupto causa um mal tão grande quanto o traficante. Quando há desvio de verba pública, serviços essenciais deixam de ser prestados.
O desvio de verba movimenta mais dinheiro que o tráfico?
O movimento financeiro, eu diria hoje, pelo que temos visto, que a corrupção como um todo no Estado do Amazonas, tem movimentado mais dinheiro que tráfico interno de drogas. É absurdo, mas é verdade.
Quais os programas federais que durante as investigações apresentaram indícios de desvio de verba? Principalmente recursos da Saúde, porque o valor do recurso é significativo. Vou dar o exemplo de Boa Vista do Ramos. A prefeitura recebia determinado percentual para pagar o salário de médicos e enfermeiros contratados. A verba estava entrando, porque tinha um médico cadastrado, mas esse médico saiu e só soube que esse valor continuava sendo repassado quando foi fazer um concurso público e constou o registro dele cadastrado no município. Ou seja, a prefeitura continuava recebendo, mas para onde estava indo esse recurso se o médico não estava lá?
O senhor já foi ameaçado?
Não. Mas eu não ajo em meu nome. É o Ministério Público que está investigando. Talvez por isso, não houve ameaça a mim. Mas se houver, não vai fazer com que deixemos de exercer o nosso trabalho.
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