O governo buscou o compromisso de empresários em garantir e acelerar o repasse aos preços do corte de tributos da cesta básica em reunião nesta segunda-feira (11), e os supermercados se comprometeram a repassar parte do corte a partir de amanhã.
Segundo analistas, no entanto, os consumidores não devem sentir todo o efeito da medida anunciada na sexta pela presidente Dilma Rousseff. Estimativa feita pelo Bradesco indica que um terço da redução deverá ser absorvido pelos empresários para recompor margem de lucro.
Ao sair do encontro, o presidente da Abras (Associação Brasileira de Supermercados), Fernando Yamada, disse que a partir de amanhã carnes e produtos de higiene devem cair 6% em média e os demais itens, 3%.
Segundo o executivo, o repasse "praticamente" integral aos preços da desoneração da cesta pedida pela presidente pode chegar ao consumidor em até duas semanas --mas depende de decisão da indústria.
Yamada disse que os supermercados estão empenhados em repassar o benefício. "Comunicamos ao ministro que todo o setor está mobilizado para aplicar a desoneração."
Ontem, o Grupo Pão de Açúcar --maior rede varejista do país-- anunciou que sua rede começaria a aplicar hoje a desoneração dos impostos.
Sergio Lima/Folhapress | ||
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Ministro Guido Mantega (Fazenda) recebe representantes do setor de supermercados e da indústria de alimentos |
Presidente da Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação, Edmundo Klotz disse esperar que todo setor repasse a desoneração ao consumidor final, mas não citou um percentual. "Não temos muita noção de quanto será esse repasse. Chegará ao menor nível possível, pois estamos fazendo a nossa parte. Todos devem repassar o máximo do benefício, levando o imposto para próximo de zero".
Questionado sobre a diferença entre a redução dos impostos e dos preços, Mantega respondeu que alguns setores possuem créditos tributários que já não poderiam ser recuperados com o fim dos impostos sobre a cesta básica. "Essas são questões tributárias que vamos tentar resolver", disse o ministro, sem especificar o que poderia ser feito.
Ele afirmou ser importante que a redução dos impostos da cesta básica "chegue logo" às prateleiras para beneficiar a população, para que os índices de inflação "caiam mais rapidamente".
INFLAÇÃO E JUROS
Mantega não falou de taxa de juros no encontro nem quis fazer uma relação com a medida anunciada na última sexta-feira, mas a Folha apurou que o governo decidiu antecipar o seu anúncio, previsto inicialmente para maio, porque a inflação passou a preocupar o Planalto.
Em fevereiro, ela atingiu 0,60% --acima do esperado pela equipe econômica--, fazendo a taxa anualizada atingir 6,31%. Em março, o IPCA deve estourar o teto da meta de inflação --de 6,5%--, o que pode levar o BC (Banco Central) a subir os juros nos próximos meses.
Assessores presidenciais já admitem que dificilmente o BC não subirá os juros, mas acreditam que medidas como a desoneração da cesta básica podem reduzir o tamanho do aperto na taxa caso ele seja realmente feito.
REDE NACIONAL
Na sexta-feira (8), a presidente Dilma Rousseff anunciou que o governo zerou os tributos federais que incidiam sobre a cesta básica de alimentos. Em discurso de 11 minutos em cadeia nacional de rádio e TV, ela disse ter reformulado a cesta básica e incluído produtos de higiene pessoal, limpeza e, segundo ela, "de maior valor nutritivo".
A desoneração de tributos inclui carnes (bovina, suína, aves, peixes, ovinos e caprinos), café, óleo, manteiga, açúcar, papel higiênico, pasta de dente e sabonete, e o impacto anual estimado pelo governo é de R$ 7,4 bilhões --R$ 5,5 bilhões neste ano.
No pronunciamento, a presidente foi direta: "Conto com os empresários para que isso signifique uma redução de pelo menos 9,25% no preço das carnes, do café, da manteiga e do óleo de cozinha e de 12,5% na pasta de dentes e nos sabonetes, só para citar alguns exemplos".
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