Publicação: 21 de Dezembro de 2013 às 00:00
Yuno Silva - Repórter
Colaborou: Cinthia Lopes (editora)
Apesar de não se incomodar com o título de nobreza, Reginaldo Rossi nunca aceitou bem a ideia de ser “rei” nem muito menos simpatizava com o rótulo “brega”. Adorava mesmo era ser visto como o primeiro cantor rock do Nordeste. Depois, ‘bastava’ ser reconhecido pelo público como um artista romântico popular “mais famoso que o Michael Jackson e mais gostoso que a Madonna”. Mas, de tanto insistirem, principalmente a imprensa do eixo Rio-São Paulo, acabou assumindo o ‘cargo’ e ficou famoso em todo o Brasil como o Rei do Brega. Seu último disco, “Cabaret do Rossi”, lançado em 2010, foi a coroação definitiva. Rossi cantava o amor, a traição e todas as dores de cotovelo que envolvem a combinação dessas duas palavras.
Nascido no Recife e batizado Reginaldo Rodrigues dos Santos, autor de pérolas como “Garçom”, “A raposa e as uvas” e “Em plena lua de mel”, verdadeiros hinos de bares e botecos, o cantor e compositor faleceu na manhã desta sexta-feira (20) no Recife, aos 69 anos, após quase um mês internado para tratar de um câncer no pulmão direito – Rossi estava hospitalizado desde o dia 27 de novembro e seu corpo será sepultado hoje no Cemitério Morada da Paz em Paulista (PE). A Prefeitura do Recife e o Governo de PE decretaram luto oficial de três dias.
Amado pelos fãs e admirado por artistas de todas as vertentes, Reginaldo Rossi tinha uma capacidade incomum de dominar o palco. “Nos bastidores era uma pessoa tímida, serena, que gostava de ficar no cantinho dele antes dos shows”, disse o produtor Daniel Campos, responsável pelas últimas apresentações do pernambucano em Natal. “Era uma pessoa divertida, atendia todos os fãs, mas era muito sério; criticava a falta de diálogo dos artistas com o público. Foi um dos melhores artistas com quem já trabalhei, quando subia no palco se transformava”, recorda.
Foi Daniel Campos que transformou o CD/DVD “Cabaret do Rossi” em show, com direito a cenário e dançarinas. O produtor potiguar realizou três edição do cabaré em 2011, 2012 e 2013. “A produção dele me ligava dizendo que esses shows aqui Natal eram bastante falados no Recife, que precisava reservar camarote para autoridades. Inclusive já tínhamos programados o cabaré 4”. Campos revelou que chegou a gravar algumas cenas que “podem ser utilizadas no futuro para algum documentário”.
“Ser brega é o que o povo gosta”
Antes de se decidir pela música, Rossi estudou Engenharia e foi professor de Física e Matemática. Com cabeleira farta e camisa aberta ao peito, iniciou sua carreira artística em 1964 imitando Roberto Carlos, passaporte para se integrar à Jovem Guarda. Influenciado pelos Beatles, comandou o grupo de rock The Silver Jets, e em 1966 lançou o primeiro disco solo “O Pão”.
Longe dos holofotes da grande mídia nacional, foi crooner em boates e construiu uma carreira de sucesso com alcance regional – até meados dos anos 1990, quando relançou suas principais músicas em versão ao vivo. Redescoberto por rádios e emissoras de televisão, ganhou o título de Rei do Brega: “Cada vez mais eu quero o brega perto de mim. Acho que o brasileiro está com menos vergonha de ser brega. E ser brega é o que o povo gosta de maneira geral. Quando o povo gosta, é brega”, dizia o cantor.
“Ele não gostava de ser chamado de brega”
José Teles, jornalista e crítico de música pernambucano, também conversou com a TRIBUNA DO NORTE sobre a morte do cantor e compositor Reginaldo Rossi, ocorrida ontem pela manhã de ontem no Recife, onde estava internado desde o final do mês de novembro:
“Cara, tem uma coisa com Reginaldo Rossi: ele não gostava de ser chamado de brega. Na verdade ele continuava na Jovem Guarda. Pode comparar a música que fazia agora e a de 1967, é a mesma coisa! Tanto que demorou a aceitar o rótulo de brega. No final aceitou. Tanto aceitou que o último trabalho dele foi ‘O Cabaré do Rossi’, um show conceitual. Brega, todos sabem, era gíria pra cabaré aqui no Nordeste.
Acho que ‘Garçom’ está pra ele assim como ‘Eu não sou cachorro não’ está para Waldick Soriano (1933-2008). Ambas são canções atípicas na temática mais light da música do dois. Foram espécie de provocações, e acabaram marcadas por ela.
Não consigo lembrar de nenhum herdeiro direto, Rossi, assim como Raul Seixas, criou um personagem; e incorporou este personagem. Embora a música de um e outro sejam bem diferentes, foram únicos.
“Assim como Wando, não deixa herdeiros”
O jornalista Rodrigo Faour, também pesquisador, escritor, produtor musical e apresentador do programa “História sexual da MPB”, exibido aos domingos (21h) no Canal Brasil, comentou com exclusividade para o VIVER a morte do Rei do Brega:
“O Reginaldo soube representar bem a nossa cultura popular, com seu trabalho sincero dentro do universo ‘brega’, com um toque pop e outro de irreverência. Assim como Wando (1945-2012), deixa uma lacuna insubstituível. Ela não deixou herdeiros, nem ele nem o Wando. São os últimos de série. Talvez haja algo dele na Gaby Amarantos. Mas em artistas homens, com aquela potência em nível nacional, não vejo nenhum. Pode ser que haja alguém num nível mais regional, mas não conheço.
Tenho uma teoria muito particular sobre o fenômeno do brega. O gênero virou mainstream; hoje tudo é brega. Então os originais, realmente com estilo, desenvolveram novo status a partir do final dos anos 1990, quando os grandes compositores e intérpretes começaram a desaparecer da mídia e a nova geração que os sucedeu não tinha nem a metade do talento e do charme da antiga. Então até o chamado terceiro time da MPB começou a ser revalorizado – e muitos deles, com bastante justiça. Sendo assim, o brega clássico virou tão clássico e respeitado quanto a chamada MPB clássica.”
REPERCUSSÃO
Silvério Pessoa, músico: Meu coração de luto! Perdi meu cumpade por quem eu tinha um afeto paterno! Valeu Rossi, beijos sempre!
Xico Sá, jornalista: Ninguém odiava mais o rótulo de brega que Reginaldo Rossi. Por favor, poupem o cabra desse vexame típico de classe média
Lenine, músico: Nenhum outro cantor do Brasil conseguiu ser tão autêntico e desbocado quanto Reginaldo Rossi.
Otto, músico: Reginaldo Rossi foi quem me mostrou o que é ser pop, romântico... como se conquista um palco! Como se interpreta uma música com tesão. Meu amigo e mestre, meu ídolo. Que falta você vai fazer.
Paulo André, produtor: Acabo de ouvir essa frase de Geraldo Freire na rádio: “Reginaldo Rossi era feito galo, cantava de noite, pra comer de dia”
Falcão, cantor: #triste. Um amigo/irmão acaba de passar pro andar de cima... Grande Reginaldo Rossi! Que Deus o tenha!
Gaby Amarantos: Nem consigo explicar o que estou sentindo, um mix de tristeza com alívio pois quando a gente ama alguém não aguenta ver o ser amado sofrendo e este homem na minha opinião é um dos MAIORES artistas do Brasil. Sempre vou te amar, OBRIGADA POR TUDO!
VENDAGEM*
14 discos de ouro
2 de platina
1 de platina duplo
1 de diamante
*Até 2003 os discos de ouro equivaliam a 100 mil cópias vendidas; de platina, 250mil; e diamante 1 milhão de cópias. Diante da dinâmica do mercado fonográfico essas quantidades foram revistas, e desde 2010 o de ouro vale 40 mil cópias; platina 80 mil e diamante 300 mil cópias. Também foram criadas classificação para vendas online.
Colaborou: Cinthia Lopes (editora)
Apesar de não se incomodar com o título de nobreza, Reginaldo Rossi nunca aceitou bem a ideia de ser “rei” nem muito menos simpatizava com o rótulo “brega”. Adorava mesmo era ser visto como o primeiro cantor rock do Nordeste. Depois, ‘bastava’ ser reconhecido pelo público como um artista romântico popular “mais famoso que o Michael Jackson e mais gostoso que a Madonna”. Mas, de tanto insistirem, principalmente a imprensa do eixo Rio-São Paulo, acabou assumindo o ‘cargo’ e ficou famoso em todo o Brasil como o Rei do Brega. Seu último disco, “Cabaret do Rossi”, lançado em 2010, foi a coroação definitiva. Rossi cantava o amor, a traição e todas as dores de cotovelo que envolvem a combinação dessas duas palavras.
DivulgaçãoReginaldo Rossi deixa um legado que foge à alcunha de Rei do Brega e reforça a autenticidade de seu trabalho: Minhas músicas tocam no iPod do desembargador e no radinho do porteiro porque, todo mundo sofre por amor...
Nascido no Recife e batizado Reginaldo Rodrigues dos Santos, autor de pérolas como “Garçom”, “A raposa e as uvas” e “Em plena lua de mel”, verdadeiros hinos de bares e botecos, o cantor e compositor faleceu na manhã desta sexta-feira (20) no Recife, aos 69 anos, após quase um mês internado para tratar de um câncer no pulmão direito – Rossi estava hospitalizado desde o dia 27 de novembro e seu corpo será sepultado hoje no Cemitério Morada da Paz em Paulista (PE). A Prefeitura do Recife e o Governo de PE decretaram luto oficial de três dias.
Amado pelos fãs e admirado por artistas de todas as vertentes, Reginaldo Rossi tinha uma capacidade incomum de dominar o palco. “Nos bastidores era uma pessoa tímida, serena, que gostava de ficar no cantinho dele antes dos shows”, disse o produtor Daniel Campos, responsável pelas últimas apresentações do pernambucano em Natal. “Era uma pessoa divertida, atendia todos os fãs, mas era muito sério; criticava a falta de diálogo dos artistas com o público. Foi um dos melhores artistas com quem já trabalhei, quando subia no palco se transformava”, recorda.
Foi Daniel Campos que transformou o CD/DVD “Cabaret do Rossi” em show, com direito a cenário e dançarinas. O produtor potiguar realizou três edição do cabaré em 2011, 2012 e 2013. “A produção dele me ligava dizendo que esses shows aqui Natal eram bastante falados no Recife, que precisava reservar camarote para autoridades. Inclusive já tínhamos programados o cabaré 4”. Campos revelou que chegou a gravar algumas cenas que “podem ser utilizadas no futuro para algum documentário”.
“Ser brega é o que o povo gosta”
Antes de se decidir pela música, Rossi estudou Engenharia e foi professor de Física e Matemática. Com cabeleira farta e camisa aberta ao peito, iniciou sua carreira artística em 1964 imitando Roberto Carlos, passaporte para se integrar à Jovem Guarda. Influenciado pelos Beatles, comandou o grupo de rock The Silver Jets, e em 1966 lançou o primeiro disco solo “O Pão”.
Longe dos holofotes da grande mídia nacional, foi crooner em boates e construiu uma carreira de sucesso com alcance regional – até meados dos anos 1990, quando relançou suas principais músicas em versão ao vivo. Redescoberto por rádios e emissoras de televisão, ganhou o título de Rei do Brega: “Cada vez mais eu quero o brega perto de mim. Acho que o brasileiro está com menos vergonha de ser brega. E ser brega é o que o povo gosta de maneira geral. Quando o povo gosta, é brega”, dizia o cantor.
“Ele não gostava de ser chamado de brega”
José Teles, jornalista e crítico de música pernambucano, também conversou com a TRIBUNA DO NORTE sobre a morte do cantor e compositor Reginaldo Rossi, ocorrida ontem pela manhã de ontem no Recife, onde estava internado desde o final do mês de novembro:
“Cara, tem uma coisa com Reginaldo Rossi: ele não gostava de ser chamado de brega. Na verdade ele continuava na Jovem Guarda. Pode comparar a música que fazia agora e a de 1967, é a mesma coisa! Tanto que demorou a aceitar o rótulo de brega. No final aceitou. Tanto aceitou que o último trabalho dele foi ‘O Cabaré do Rossi’, um show conceitual. Brega, todos sabem, era gíria pra cabaré aqui no Nordeste.
Acho que ‘Garçom’ está pra ele assim como ‘Eu não sou cachorro não’ está para Waldick Soriano (1933-2008). Ambas são canções atípicas na temática mais light da música do dois. Foram espécie de provocações, e acabaram marcadas por ela.
Não consigo lembrar de nenhum herdeiro direto, Rossi, assim como Raul Seixas, criou um personagem; e incorporou este personagem. Embora a música de um e outro sejam bem diferentes, foram únicos.
“Assim como Wando, não deixa herdeiros”
O jornalista Rodrigo Faour, também pesquisador, escritor, produtor musical e apresentador do programa “História sexual da MPB”, exibido aos domingos (21h) no Canal Brasil, comentou com exclusividade para o VIVER a morte do Rei do Brega:
“O Reginaldo soube representar bem a nossa cultura popular, com seu trabalho sincero dentro do universo ‘brega’, com um toque pop e outro de irreverência. Assim como Wando (1945-2012), deixa uma lacuna insubstituível. Ela não deixou herdeiros, nem ele nem o Wando. São os últimos de série. Talvez haja algo dele na Gaby Amarantos. Mas em artistas homens, com aquela potência em nível nacional, não vejo nenhum. Pode ser que haja alguém num nível mais regional, mas não conheço.
Tenho uma teoria muito particular sobre o fenômeno do brega. O gênero virou mainstream; hoje tudo é brega. Então os originais, realmente com estilo, desenvolveram novo status a partir do final dos anos 1990, quando os grandes compositores e intérpretes começaram a desaparecer da mídia e a nova geração que os sucedeu não tinha nem a metade do talento e do charme da antiga. Então até o chamado terceiro time da MPB começou a ser revalorizado – e muitos deles, com bastante justiça. Sendo assim, o brega clássico virou tão clássico e respeitado quanto a chamada MPB clássica.”
REPERCUSSÃO
Silvério Pessoa, músico: Meu coração de luto! Perdi meu cumpade por quem eu tinha um afeto paterno! Valeu Rossi, beijos sempre!
Xico Sá, jornalista: Ninguém odiava mais o rótulo de brega que Reginaldo Rossi. Por favor, poupem o cabra desse vexame típico de classe média
Lenine, músico: Nenhum outro cantor do Brasil conseguiu ser tão autêntico e desbocado quanto Reginaldo Rossi.
Otto, músico: Reginaldo Rossi foi quem me mostrou o que é ser pop, romântico... como se conquista um palco! Como se interpreta uma música com tesão. Meu amigo e mestre, meu ídolo. Que falta você vai fazer.
Paulo André, produtor: Acabo de ouvir essa frase de Geraldo Freire na rádio: “Reginaldo Rossi era feito galo, cantava de noite, pra comer de dia”
Falcão, cantor: #triste. Um amigo/irmão acaba de passar pro andar de cima... Grande Reginaldo Rossi! Que Deus o tenha!
Gaby Amarantos: Nem consigo explicar o que estou sentindo, um mix de tristeza com alívio pois quando a gente ama alguém não aguenta ver o ser amado sofrendo e este homem na minha opinião é um dos MAIORES artistas do Brasil. Sempre vou te amar, OBRIGADA POR TUDO!
VENDAGEM*
14 discos de ouro
2 de platina
1 de platina duplo
1 de diamante
*Até 2003 os discos de ouro equivaliam a 100 mil cópias vendidas; de platina, 250mil; e diamante 1 milhão de cópias. Diante da dinâmica do mercado fonográfico essas quantidades foram revistas, e desde 2010 o de ouro vale 40 mil cópias; platina 80 mil e diamante 300 mil cópias. Também foram criadas classificação para vendas online.
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