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quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

A morte do revolucionário do câncer e da ciência

Riad Younes
De São Paulo
Um xeque-mate fulminante tirou do cenário científico mundial um dos expoentes do câncer no Brasil. Professor Ricardo Renzo Brentani faleceu subitamente nesta terça-feira (29) à noite. "Estava animado, se preparando para um jantar importante com amigos. De repente caiu e...", me disse sua companheira de décadas, Professora Maria Mitzi Brentani, entre lágrimas.
Ia conversar, durante o jantar, com dois dos maiores cientistas brasileiros atualmente nos Estados Unidos, Wadih Arap e Renata Pasqualini. Projetos de colaboração intensiva entre o Centro de Câncer MD Anderson, em Houston (onde trabalha o casal de pesquisadores) e o Hospital AC Camargo, em São Paulo. Este, sim, a paixão do Dr. Brentani. "Se algo acontecer comigo, queria ficar no AC Camargo", confidenciou Brentani aos seus mais íntimos amigos, entre eles o Dr. Luiz Paulo Kowalski, chefe do Departamento de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital AC Camargo, e cirurgião do ex-Presidente Lula.
Nesta terça-feira à noite, não tinha ficado claro para mim, onde seria o velório. Afinal, como professor da Faculdade de Medicina da USP, geralmente o velório seria no salão nobre e teatro da própria instituição. Mas, o coração do Professor Brentani sempre ficou muito mais no AC Camargo. Adorava este hospital. E assim foi feita sua vontade.
Autoridades, incluindo o governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o secretário da Saúde do Estado, Giovanni Cerri, além de professores e colegas da Faculdade de Medicna da USP, e uma multidão de amigos, parentes, médicos e funcionários do Hospital AC Camargo, homenagearam o falecido e tentaram consolar a professora Mitzi e a família Brentani.
Visionário. Decidido. Teimoso. Pioneiro. Agressivo. Gênio. Assim foi descrito pelos presentes no velório. Mas, o legado do Dr. Brentani vai muito longe, muito mais longe que os mais de 300 trabalhos científicos publicados nas melhores e mais prestigiadas revistas médicas do mundo. Ele ousou. E muito. Até a década de 80, quase inexistia qualquer curso bem estruturado de oncologia (estudo do câncer) no currículo regular das faculdades de Medicina do Brasil. Ele batalhou, visionário, para a introdução de uma disciplina sólida que deverá fazer parte integrante e fundamental no ensino médico. "Afinal, esta doença estará em franca expansão. E alguém vai ter que cuidar dos pacientes!", afirmava Dr. Brentani.
Com sua persistência, conseguiu instalar a disciplina na USP, e assim contagiou as outras escolas médicas brasileiras. Ela cresceu em tamanho e importância que hoje, 20 anos depois, ocupa e administra o gigantesco Instituto de Câncer do Estado de São Paulo, ICESP. Ao mesmo tempo, insistiu em recuperar, equipar e modernizar o hospital de câncer de São Paulo, AC Camargo, que se tornou uma opção de alta eficiência no tratamento de pacientes, independente de convênio ou SUS. Neste projeto me convidou, entre outros médicos, para ajudá-lo. Ninguém podia falar não ao entusiasmo e ao brilho nos olhos do Dr. Ricardo Renzo.
Aceitamos, e todos nós trabalhamos arduamente. Tentava também convencer as autoridades de saúde e os administradores de hospitais privados que "o ensino e a pesquisa, fora das universidades, dão lucro..." Provou sua hipótese ao instalar, no Hospital AC Camargo, um dos mais respeitados centros de pesquisa e ensino do Brasil.
Ultimamente, queria trazer a São Paulo, e ao Brasil, cientistas de renome internacional na pesquisa do câncer. O jantar, nesta terça à noite, com Wadih e Renata seria um passo importante. Infelizmente, o coração do rei do câncer parou antes. Espero, junto com todos os brasileiros, que o sonho deste revolucionário da ciência continue. Descanse em paz, Prof. Brentani. Obrigado por tudo!

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