Em agosto de 2005, despejado da chefia da Casa Civil pela descoberta da
grande roubalheira, José Dirceu resolveu assumir ostensivamente o comando do
colosso paramilitar aquartelado na imaginação sempre fértil do guerrilheiro de
festim diplomado em Cuba. “Vou percorrer o país para mobilizar militantes do
PT, dos sindicatos e dos movimentos sociais”, ameaçou o ainda deputado federal
num encontro da companheirada em São Paulo. “Temos de defender o governo de
esquerda do presidente Lula do golpe branco tramado pela elite e por
conservadores do PSDB e do PFL”.
Um ataque de tropas lideradas por José Dirceu só consegue matar de rir,
registrou o post que desmontou a dupla tapeação: o que o orador pretendia
defender com a entrada em ação do exército fantasma era o próprio mandato
parlamentar. O comandante sem comandados passou as semanas seguintes mendigando
votos até entre os contínuos da Câmara, amargou a cassação em dezembro e
caiu fora do Congresso chamando o porteiro de “Vossa Excelência”. Encerrada a
ofensiva inaugural que não houve, as tropas invisíveis a olho nu foram
recolhidas ao acampamento imaginário.
Ali ficaram até agosto de 2012, quando o chefe do esquema criminoso
decidiu intimidar o Supremo Tribunal Federal às vésperas do início do
julgamento do mensalão. “Todos sabem que este julgamento é uma batalha
política”, reincidiu o general da banda podre no congresso nacional de uma
certa União da Juventude Socialista. “Essa batalha deve ser travada nas
ruas também, porque senão a gente só vai ouvir uma voz, a voz pedindo a
condenação, mesmo sem provas. É a voz do monopólio da mídia. Eu preciso do
apoio de vocês”.
Os ministros que tratassem de inocentar os culpados, advertiu. Caso
ousassem enxergar a montanha de provas e evidências que incriminavam o
declarante e seus comparsas, o comandante não hesitaria em sublevar a imensidão
de “companheiros das forças progressistas e dos movimentos populares”.
Qualquer torcida organizada de time de futebol tem mais militantes que o
PT, replicou a coluna em outro post. Assembleias organizadas por sindicalistas
pelegos são menos concorridas que reunião de condomínio. Sem duplas sertanejas,
cerveja, tubaína e mortadela, as celebrações do Dia do Trabalho juntariam menos
gente que quermesse de lugarejo. Todos os movimentos sociais morreriam de
inanição uma semana depois de suprimida a mesada federal. O palavrório
beligerante, portanto, era só mais um blefe do jogador falastrão. E se o STF
resolvesse pagar para ver?
Foi o que fez o ministro Joaquim Barbosa. E então o embuste virou cinza,
feito vampiro de filme B confrontado com um crucifixo. Dirceu estava
entrincheirado no sítio em Vinhedo quando foi condenado à prisão. Estava de
sunga branca numa praia da Bahia quando soube que seria obrigado a bronzear-se
no pátio da cadeia. Para livrar-se da traseira do camburão, entregou-se
espontaneamente à Polícia Federal. Mas nenhum canastrão de nascença resiste à
tentação do patético. E Dirceu achou uma boa ideia posar para as câmeras com o
punho esquerdo cerrado apontando para o céu.

(Foto: Ivan Pacheco)
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