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quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Homem dado como morto recebe alta do Hospital Santo Antônio

Da redação (redacao@correio24horas.com.br)
Atualizado em 17/09/2014 12:11:01
  
Valdelúcio retornou para casa
(Foto: Acervo Pessoal)
Depois ser dado como morto e passar horas dentro de um saco para defuntos no necrotério do Hospital Menandro de Faria, em Lauro de Freitas, Valdelúcio de Oliveira, 54 anos, já está em casa. Segundo a tia dele, Áurea Gonçalves, a alta médica foi dada na tarde desta terça-feira (16), por volta das 13h.

Valdelúcio estava internado no Hospital Santo Antônio desde o dia 25 agosto, depois de ter sido transferido do Menandro de Farias - onde ele deu entrada dois dias antes. 

Agora, Valdelúcio continuará frequentado a unidade para fazer tratamento de um câncer na laringe. "Ele está ótimo. Já passou por duas seções de radioterapia e quimioterapia, mas não teve nenhuma reação. Engordou e está com a pele boa. A quimio será uma vez por semana", disse a tia Áurea.
Caso inusitado
Eram 23h07 quando a médica Carolina Magalhães, que estava de plantão no Hospital Geral Menandro de Farias, em Lauro de Freitas, constatou a morte de Valdelúcio. Duas horas mais tarde, ele estava enrolado em um lençol na sala de necrotério, porém, vivo. 
Até a ressurreição, foram mais de 12 horas no hospital, com o quadro piorando desde a chegada, no final da manhã. A situação complicou quando ele teve duas paradas cardiorrespiratórias. Os médicos tentaram reanimá-lo, mas nenhum dos procedimentos deu certo. Os seis meses de luta contra um câncer avançado na laringe pareciam acabar ali.

A tia de Valdelúcio Áurea Gonçalves, que mora com ele, foi avisada da morte e deu a má notícia aos demais familiares que esperavam por informações do parente. Diante disso, com o atestado de óbito em mãos, os parentes foram cuidar dos procedimentos para realizar o funeral no dia seguinte.

Depois de ir à funerária acertar os detalhes do enterro e fazer o pagamento pelo caixão, o irmão de Valdelúcio, o engenheiro agrimensor Waltério de Oliveira, voltou ao hospital. Era um momento de muita dor e ele lembra que ainda estava incrédulo com a morte do irmão. A pedido da tia, foi ao necrotério do Menandro de Farias deixar a última roupa que o irmão vestiria. Foi quando aconteceu o inesperado.
Recibo da funerária: R$ 1,9 mil gastos com caixão serão doados à Osid
(Foto: Almiro Lopes)
Antes de se aproximar, Waltério olhou para o corpo do Valdelúcio já enrolado com um lençol, quando viu que algo se mexia. “Fiquei olhando e já percebi elevando a caixa toráxica. Aí eu pensei: ‘eu já devo estar tendo uma alucinação’. Aí, parei novamente e vi que ele estava respirando. Falei com a minha esposa, que também duvidou”, conta Waltério. Mas não era alucinação.

Valdelúcio estava vivo, depois de mais de duas horas enrolado no lençol, com algodões no nariz, ouvidos e também na traqueia, a qual havia sida perfurada para possibilitar a respiração. “A médica que tinha dado atestado de óbito constatou que ele tinha voltado. Ela e toda a equipe médica levaram  ele para a sala de reanimação e começaram todo o procedimento novamente”, relata. Enquanto Valdelúcio era retirado do hospital, Waltério corria pelos corredores para contar ao resto da família, que ainda sofria com a dor da perda.
Outro lado
Enquanto a família sofria por sua morte, Valdelúcio conhecia o “outro lado”. Depois do susto, a tia, Áurea, contou a ele o que tinha acontecido. E, então, novas surpresas: se comunicando por bilhetes em um caderninho, Valdelúcio contou o que teria visto enquanto “dormia” no necrotério.
No caderno, conta que viu a mãe e outros parentes já mortos. Mas a mãe teria lhe dado um recado especial: se apegar à fé em Irmã Dulce. “Eu vi minha mãe dizendo: ‘filho, se apegue a ela e será salvo’”, escreveu no caderninho.

A relação dele com a Bem-Aventurada começou logo quando foi diagnosticado com câncer, há seis meses. Valdelúcio chegou a fazer tratamento no Hospital Santo Antônio, das Obras Sociais Irmã Dulce, durante quatro meses. Nos últimos tempos, o quadro dele tinha piorado muito e ele se alimentava apenas por sonda e respirava por traqueostomia.
A tia, que o acompanha, comprou uma imagem da beata no início do tratamento. “Eu sentei com ele na igreja, assisti a toda a missa. Comprei uma imagem  e  botei no quarto dele. E sempre perguntava se ele tinha rezado para ela”, conta. Depois da ‘ressurreição’, ele foi transferido para o Hospital Santo Antônio.
Milagre  
Para os parentes, não existe a possibilidade de erro médico -  eles creem na hipótese de milagre. O representante comercial Eduardo Valadares, primo de Valdelúcio, ainda parece não acreditar em tudo que viu acontecer em poucas horas. “Fui fazer a declaração de óbito, eles terminando de tirar tudo, vi que ele estava morto, com o tórax para dentro. Vi colocando algodão, lençol, acompanhei tudo, amarrando ele e depois ter essa surpresa”, comenta

Doença rara
Médico patologista, Marco Antonio Almeida, do Cremeb, não crê em milagre e considera que o caso pode ser catalepsia – doença que deixa os músculos rígidos e é difícil definir os sinais vitais.
“Não acredito em milagre, não. Acredito e desacredito no ser humano. É diferente. Esses casos de morte aparente, ou catalepsia, são muito controversos na medicina. Não conheço  nenhum caso. Em 34 anos de profissão, já fiz várias necropsias e nunca vi nenhum caso (parecido)”, garante o médico.
No entanto, o conselheiro corregedor também diz não entender como um paciente assim como Valdelúcio, que precisava de traqueostomia para respirar, conseguiu passar quase duas horas sem nenhum tipo de aparelho.
“Se ele realmente estivesse dependente da ventilação mecânica, com duas horas, ou muito menos que isso, ele teria morrido. Pelo que eu soube, ele ficou independente da respiração assistida e reagiu bem”, comenta.

Para esclarecer as dúvidas, apenas tendo acesso ao relatório emitido pelo Menandro de Farias. O prontuário foi entregue pela família ao Hospital Santo Antônio, das Obras Sociais Irmã Dulce.
Áurea Gonçalves, que sempre pediu ao sobrinho para confiar sua recuperação a Irmã Dulce, ontem na Osid, agradecendo o que chama de milagre (Foto: Almiro Lopes)
Cremeb e Sesab irão investigar
A família de Valdelúcio garante que a equipe médica do Hospital Menandro de Farias, onde foi apontado o óbito, não foi negligente.  Segundo os familiares, o que houve foi um grande susto dos médicos com o ocorrido.
“A médica ficou apavorada. Ela não entendeu como podia ter acontecido uma coisa dessas. Virou-se para mim e disse ‘você deve ter muita fé em Deus, porque isso é um milagre’. Mas os médicos fizeram tudo que podiam para reanimá-lo e não conseguiram”, conta Áurea Gonçalves.

Apesar disso, o Conselho Regional de Medicina da Bahia (Cremeb) vai apurar o caso. “Vamos ter que nos dirigir ao diretor do hospital, pedir o prontuário e falar com a médica para analisar tudo isso e ver se cabe realmente abrir uma sindicância, que é um inquérito inicial para ver se há indício de irregularidade”, explica o conselheiro corregedor do Cremeb, Marco Antonio Almeida.

A câmara de sindicância é quem vai decidir se vai ser aberto um processo contra a médica ou se a sindicância vai ser arquivada. “Nós temos obrigação, em nome da sociedade, de zelar pela boa prática médica”, afirma o representante do conselho. Almeida ainda tenta entender o que aconteceu nos procedimentos.
“O que pode ter ocorrido, e não estou querendo fazer juízo de valor, a priori, é que talvez não tenha sido feito a pesquisa, se é que ocorreu, correta dos sinais de morte, que é o que nós chamamos de comprovação ou constatação do óbito, que tem que ser feito pelo médico”, explica o corregedor.

Mas Almeida também considera que a profissional pode ter feito os procedimentos corretamente. “Pode ser que ela (a médica) tenha feito todas as manobras e achou que não havia mais vida naquele corpo e tenha decidido encaminhar para necropsia, que foi o que eu vi pela imprensa”, relata. Depois da repercussão do caso na imprensa, a Secretaria Estadual da Saúde (Sesab) informou, por meio de nota, que uma sindicância será aberta para investigar o caso.
Além disso, a diretora geral do HGMF, Margarida Miranda, iria se reunir com toda a equipe que atendeu o paciente e também com a diretoria da Sesab para esclarecer todo o procedimento pelo qual passou o paciente em questão. De acordo com a assessoria da secretaria, ninguém pode comentar o caso porque a investigação é sigilosa.

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