A situação de Garcia é diferente da dos demais cubanos. Seu nome consta na lista dos "médicos brasileiros formados no exterior" e receberá seu salário integralmente. A participação de cubanos no programa é motivo de contestação devido à forma de contratação. Para trazer 4 mil médicos cubanos até o final do ano, o governo brasileiro vai pagar, até fevereiro de 2014, R$ 511 milhões à Opas, que repassará o dinheiro ao governo de Cuba. No caso de outros médicos estrangeiros, o pagamento da remuneração de R$ 10 mil mensais será feito pelo governo brasileiro diretamente aos médicos.
Após chegar ao Brasil, Garcia atuou durante cinco anos, até que a Justiça Federal do Tocantins, a pedido do Conselho Regional de Medicina, rescindiu os contratos de trabalho dos médicos no estado. Alguns ficaram porque conseguiram revalidar o diploma. Outros, como Garcia, permaneceram porque constituíram família. Garcia conta que desde então tem dificuldades para trabalhar no estado.
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O médico conseguiu revalidar o diploma na justiça em 2006, mas em maio
do ano passado, o documento foi cassado. Desde então, não exerce mais a
profissão. Ele conta que já tentou quatro vezes a aprovação no Exame
Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos, mas não conseguiu. No
próximo domingo, ele vai fazer a prova novamente. "São provas
eliminatórias e não comprobatórias. São confusas, as perguntas
rebuscadas, que não querem comprovar sua experiência médica."Ele conta que veio ao Brasil depois que o governo cubano fez uma convocação para médicos com especialidade em medicina familiar trabalharem no Tocantins, já que havia firmado parceria com o governo do estado. Ele foi enviado para Santa Terezinha do Tocantins, a 502 km de Palmas. Quando chegou não havia nenhum médico atuando na unidade de saúde. Ele conta que atendeu sozinho à população por quatro anos.
"O acolhimento foi bom, a população, carinhosa. Trabalhava e me dedicava por inteiro. De manhã atendia na unidade de saúde e alguns dias tínhamos que fazer visitas domiciliares, inclusive nas zonas rurais. Nós íamos de cavalo e tínhamos acesso a regiões afastadas que nem a população da cidade conhecia", comenta o médico.

local onde Ariel Diaz Garcia vai trabalhar
(Foto: Sydney Neto/TV Anhanguera TO)
O cubano relata que não conhecia a realidade do estado e nem o real objetivo da parceria entre os dois governos. "Nós não sabíamos da finalidade do projeto, mas depois de algum tempo entendemos que fomos usados como ferramenta política." O médico diz ainda que, quando ficou sabendo da decisão da justiça em rescindir os contratos, se sentiu frustrado. "Depois de anos trabalhando para um país, se dedicando, depois de um esgotamento físico, fomos postos na rua. Eu já me sentia participante da cidade, tinha feito amigos. De repente você é inútil e não vale mais nada. Além disso, tinha uma família para sustentar."
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